Após uma primeira análise sobre o modo como os fatos têm sido lidos, é então apresentada aquela que é tida como a gênese de um escândalo.
Vale ressaltar que o Padre Amedeo Cencini possui extensa atividade acadêmica pelas décadas de experiência como professor nas principais Universidades Pontifícias romanas e abundante prática formativa ao redor do mundo pelo trabalho que desenvolve à serviço do Vaticano como visitador apostólico e como conferencista.
A partir dessas experiências, ele observou que os abusos nunca acontecem de modo improvisado, eles sempre respeitam uma certa ordem de desenvolvimento e não acontecem tendo como agentes pessoas que sempre tiveram grandes desequilíbrios psíquicos ou patologias, em geral, são frutos de uma série de escolhas feitas em pequenas situações cotidianas e que vão como que pavimentando no interior da pessoa normal, um caminho rumo aos abusos.
Não cabe aprofundar muito aqui - a intenção do texto é apenas despertar celibatários, formadores e autoridades para a profundidade do tema e suas possíveis ações rumo à mudança-, mas vale deixar exposto, ao menos superficialmente, a argumentação feita no livro. Para compreender o que acontece, é preciso ter presente o papel da sexualidade na geografia intrapsíquica do ser humano e o quanto a renúncia da vivência da genitalidade, feita pelos celibatários, altera a sua dinâmica natural e interior que se tornam privadas das gratificações que seriam frutos da vivência que eles renunciaram.
Aquilo que dentro do matrimônio os cônjuges podem experimentar por sua vivência sexual que gera gratificações relacionais de afirmação do eu, de estima de si, de complementariedade, de dar sentido à própria existência, entre outras, os celibatários não experimentam, a experiência que fazem, pelo contrário, é de uma grande pobreza interior determinada pela falta dessas gratificações. Toda essa realidade intrapsíquica pode criar sérios riscos para aqueles que vão apenas vivendo e se deixando levar pela vida celibatária sem dar a devida atenção à dinâmica do seu interior.
Existe também uma relação estreita entre frustração e gratificação e que precisa estar bem equilibrada. Cada pessoa é livre para fazer as suas escolhas, mas só estará bem se perceber que a escolha feita a fará feliz e a possibilitará alcançar um objetivo estabelecido por ela, um objetivo que seja grande e pelo qual valha a renúncia de outras realidades. A sexualidade vivida no matrimônio é algo belíssimo e querido por Deus, é preciso que o celibatário perceba essa beleza e reconheça que a sua renúncia se torna belíssima quando realizada por amor.
Dentro da possibilidade em viver algo belo e ter optado por sua renúncia em favor de algo grandioso, é preciso que cada celibatário adote um estilo de vida que seja em acordo com sua opção vocacional. Os celibatários devem ser aqueles que vivem muitas relações, mas que não são o centro de nenhuma delas, eles devem testemunhar que o único amor que pode saciar o coração humano é o de Deus. Quanto mais um celibatário adota um estilo de vida (tanto no âmbito público quanto no privado) em acordo com sua vocação, mais ela é fortalecida e confirmada e ele se sente realizado.
Quando há uma situação de desequilíbrio interior do celibatário, surge então a necessidade de compensação atuando como um mecanismo de defesa querendo iludir quanto ao equilíbrio interior já ter sido restabelecido. Alguns exemplos de áreas onde as pessoas buscam gratificação e compensação para suportar o peso da renúncia feita do exercício da genitalidade: estima de si (muitas vezes se manifesta no comportamento carreirista), afirmação do eu (muitas vezes manifestada pelo autoritarismo), etc.
Esse é o ponto de partida dos escândalos.
Quem tiver denúncias para fazer, deve procurar os escritórios próprios para esse fim nas Dioceses e Congregações ou o Núcleo Lux Mundi da CNBB/CRB.
Se quiser saber mais sobre o assunto você pode o que já comentei a partir de outras produções:
E o que já postei de resenha de livros explicando:
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