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Projeto de vida | Salesianamente #3


Durante a adolescência, João Bosco saiu de casa para ir atrás do seu grande sonho que era poder estudar e se tornar sacerdote. Para que isso fosse possível, começou a trabalhar em propriedades rurais e outros estabelecimentos, em troca do mínimo necessário para sobreviver próximo à escola.


Dos 16 aos 26 anos, João Bosco morou na cidade de Chieri, os primeiros 5 anos estudando na escola pública, tirando o atraso do seu aprendizado no ensino formal e, os últimos 5 anos, estudando já no seminário diocesano.


O cotidiano no colégio, embora público, era imerso em inúmeras práticas espirituais, e só pra deixar claro, a lei civil naquele momento e naquele lugar é que determinavam que deveria ser assim.


Vejam só como o Padre Buccellato descreve: “Na manhã dos dias comuns ouvia-se a santa missa; cada aluno devia dispor de um livro de orações e lê-lo devotamente. No começo das aulas rezava-se a oração do Actiones com uma Ave-Maria, no fim, a do Agimus e a Ave-Maria. Aos sábados, todos deviam recitar a lição de catecismo marcada pelo diretor espiritual e no fim da aula honrar Maria Santíssima com as ladainhas. Nos dias festivos, todos iam para a igreja; enquanto os alunos entravam, fazia-se leitura espiritual, depois se cantava o Ofício de Nossa Senhora, rezava-se a missa, seguida de explicação do evangelho. De tarde, catecismo, quando cada estudante devia responder às perguntas feitas pelo diretor espiritual; por fim, vésperas e instrução”.


E mais: “Todos deviam receber os sacramentos. Para evitar a negligência de deveres tão importantes, cada um, uma vez por mês, devia apresentar o certificado da confissão e, na Páscoa, o bilhete da sagrada comunhão. Quem não tivesse cumprido essas obrigações não era admitido aos exames de fim de ano, mesmo que se tratasse de um dos melhores alunos no estudo. Aquele que fosse despedido pelo diretor espiritual porque desobediente ou porque ignorava o catecismo, também era excluído das classes de aula. Havia também um tríduo de preparação para o Santo Natal, em que se faziam duas pregações por dia, assistia-se à missa, recitavam-se o Ofício de Nossa Senhora e as orações próprias da novena. Durante a quaresma, nos dias de aula, os estudantes deviam comparecer ao catecismo que precedia o horário normal das lições. Cada ano, por cinco dias, da sexta-feira da Paixão até a terça-feira santa, todos faziam os exercícios espirituais, com duas meditações e duas instruções por dia. Encerrava-se o retiro com a comunhão pascal. Os retirantes deviam munir-se da declaração de ter participado regularmente do retiro”.


No post passado eu falei sobre a sociedade piemontesa ser bastante religiosa e com as práticas católicas bem presentes no seu modo de viver, pelo modo como o Rei tinha decretado que se desse o funcionamento das escolas públicas deu pra perceber que a religião católica era, de fato, a base da formação dos cidadãos. Com a sólida educação recebida da mãe, os anos escolares longe do lar foram, para Dom Bosco, ocasião de aprofundamento na experiência de fé, de receber mais conteúdo, de ter mais referências, de receber direção espiritual regular etc.


Desde criança, João já queria ser sacerdote, o ambiente da escola em Chieri favoreceu com que sua meta de vida se mantivesse sendo a vida eclesiástica. O ambiente escolar era tão favorável a isso, que dos 25 alunos que se formaram com Dom Bosco, 21 optaram por entrar no seminário.


Apesar de ter clareza quanto ao desejo de se doar a Deus, o jovem João Bosco não tinha clareza de como fazê-lo, ou melhor, de onde ingressar, se na vida religiosa junto aos franciscanos ou se no seminário diocesano. Foi um tempo de grande ansiedade e angústia para o rapaz que ansiava em fazer a vontade de Deus e não tinha clareza de em que direção dar o passo.


Eis aí algo tão natural na vida dos jovens, o que fazer então numa situação como essa?


A opção de João foi conversar com o amigo Luís Comollo sobre as dúvidas que o estavam perturbando. O amigo o aconselhou a que fizesse uma novena enquanto ele enviaria uma carta pedindo ajuda para o seu tio q era padre e que esperassem a resposta antes de decidir o que fazer. Dom Bosco aceitou o conselho e enquanto esperava a resposta da carta do Tio de Comollo, rezou a novena, em seu último dia foi se confessar e comungar, ouviu uma missa e ajudou em outra no altar de Nossa Senhora das Graças.


Quando chegaram em casa, a surpresa, a carta com a resposta do Padre estava lá os esperando e o aconselhava a entrar no seminário diocesano e manter o espírito de recolhimento e práticas de piedade, dessa forma poderia superar os obstáculos e ter um discernimento mais claro sobre qual era a vontade de Deus para a vida dele.


Aos 20 anos, João Bosco se tornou seminarista. Naquele tempo, ao entrar para o seminário, o rapaz recebia a veste eclesiástica, passaria então a usar a batina todos os dias. Sabendo que o discernimento vocacional era algo importante para a salvação de sua alma, pediu aos amigos que rezassem por ele, fez uma novena, se aproximou dos sacramentos e, na ocasião de sua vestidura, fez alguns propósitos de vida.


É interessante notar que nos propósitos feitos pelo recém-admitido seminarista João Melchior Bosco ele se decide a, no cotidiano, ter atitudes que favoreçam aquilo que será a sua boa vivência vocacional, a boa realização do seu projeto de vida.

Vejam aí 7 dos propósitos feitos por ele na ocasião:

No futuro não participarei de espetáculos públicos em feiras e mercados; nem assistirei a bailes ou teatros; e na medida do possível não participarei dos almoços que se costumam dar em tais ocasiões.


Não farei mais exibições de prestidigitador, saltimbanco, malabarismo, corda; não tocarei violino, não irei mais à caça. Essas coisas todas considero-as contrárias à gravidade e ao espírito eclesiástico.


Procurarei amar e praticar o retiro, a temperança no comer e no beber; para repouso tomarei apenas as horas estritamente necessárias à saúde.


Como no passado servi o mundo com leituras profanas, assim no futuro procurarei servir a Deus com leituras religiosas.


Combaterei com todas as forças qualquer leitura, pensamento, conversa, palavras e obras contrárias à virtude da castidade. Pelo contrário, farei tudo o que contribuir para a conservação dessa virtude, por insignificante que seja.


Além das práticas ordinárias de piedade, não deixarei de fazer todos os dias um pouco de meditação e de leitura espiritual.


Contarei todos os dias algum exemplo ou máxima que aproveite à alma do próximo. Assim farei com os companheiros, com os amigos com os parentes, e quando não puder fazê-lo com outros, fá-lo-ei com minha mãe.



É importante notar em tudo isso como Dom Bosco buscou discernir o caminho para realizar o seu projeto de vida e como fez tudo o que estava ao seu alcance para ser coerente com ele. Não era uma questão de "ir levando" a vida no seminário para depois ver o que fazer se chegasse a ser padre.


Desde o início, ele já traçou suas regras para se treinar a viver aquilo que estava em acordo e colaborava com o seu objetivo final. Também é interessante notar o quanto ele não decidiu nada no impulso ou baseado somente em suas preferências. Ele abriu o coração a um amigo de confiança, ele buscou aconselhamento com um homem maduro e espiritual - o tio padre do amigo-, ele fez uma novena, buscou os sacramentos e só depois se decidiu.

Muitas vezes o que nos falta na vida é nós fazermos o mesmo caminho que foi feito pelo nosso Pai e Mestre: nos perguntarmos sobre aquilo que é o chamado de Deus para nós, analisarmos os meios que nós temos para correspondê-lo, nos decidirmos a fazer isso da melhor forma possível, sempre em espírito de oração e com firmeza de ânimo.


Que Dom Bosco, nos ajude no discernimento e cumprimento do nosso projeto de vida, que ele rogue por nós e nos eduque para a santidade!


Continue lendo sobre o itinerário percorrido por Dom Bosco no desenvolvimento de sua vida com Deus.

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