Nessa 3ª parte da Filotéia o tema central é a vivência das virtudes. Segundo o autor, cada virtude tem um tempo e um lugar mais de acordo para ser vivida, elas devem ser buscadas e avaliadas segundo o estado de vida de cada pessoa e, também, se alguém tem um determinado vício, deve ter mais empenho em buscar a virtude contrária a esse vício.
É importante sempre escolher virtudes que possam ser praticadas no cotidiano, não ficar idealizando viver grandes virtudes se nunca as ocasiões para vivê-las se apresentam. Não adianta alguém ficar sonhando em ser mártir se o contexto em que ela vive não tem perseguição religiosa e, com isso, ela descuidar de viver a humildade, a mansidão e outras virtudes possíveis no cotidiano.
Sobre a mansidão, São Francisco de Sales diz que deve ser aplicada também na relação consigo mesmo, que quando as coisas não dão certo, diante das próprias falhas -se ser manso consigo mesmo. E, ainda, que "o arrependimento das nossas faltas dever ter duas qualidades: a tranquilidade e a firmeza"[1], ou seja, nada de ficar se culpando e se xingando "Ah eu não presto, eu nunca vou conseguir, toda vez é isso, sou um inútil mesmo..." nem tampouco deve-se pensar "Ah, mais uma vez errei, mas é impossível não errar né? Fazer o quê? É isso". Devemos ter tranquilidade e firmeza.
Os dois próximos assuntos tratados no livro são particularidades que nem sempre são encontradas nos livros de espiritualidade, o santo doutor fala sobre as amizades e sobre os divertimentos.
Francisco diz que a amizade é o amor mais perigoso que existe porque é onde há a maior comunicação dos defeitos e qualidades de cada pessoa. E o que caracteriza a amizade são os bens comunicados através dela, se falsos e vãos, a amizade será falsa e vã, se verdadeiros, a amizade será verdadeira.
A amizade espiritual, tão apreciada por Francisco de Sales, é quando há a comunicação recíproca das devoções, bons desejos e resoluções por amor a Deus.
O autor continua falando sobre as amizades de um modo muito profundo e que faz valer a pena da leitura do texto na íntegra no livro para saber a diferença entre as amizades vãs e verdadeiras e para ver quais avisos e remédios ele propõe contra as más amizades.
E um último ponto: os divertimentos. Ao longo da história inúmeros foram os que condenaram os jogos, bailes e divertimentos em geral, mas São Francisco de Sales não concorda com isso, para ele os divertimentos, quando bem vividos, são coisas boas e até necessárias. Ele oferece alguns critérios para que cada um possa discernir se os próprios divertimentos são prejudiciais ou positivos.
Os divertimentos são para relaxar, então não é bom dedicar a eles muito tempo e fazer deles uma ocupação. É preciso tomar cuidado para não ter o coração apegado a essas coisas e verificar o que cada divertimento causa no seu interior, porque alguns divertimentos são perigosos, dissipam o espírito de devoção, enfraquecem as forças da vontade, esfriam os ardores da caridade e suscitam nas almas milhares de dissipações.
Essa 3ª parte da Filotéia é onde pode-se encontrar maior riqueza para a vida cotidiana. Quem quer crescer na vida de santidade deve buscar ler tudo e não ficar só com o que aqui está dito.
Como proposta concreta que tal você refletir sobre quais são as virtudes próprias para você viver hoje de acordo com sua vocação, deveres, desafios e oportunidades? E também pode ser bom pensar sobre que tipo de amigo você é e tem e sobre que tipos de divertimento você busca.
Viva Jesus!
São Francisco de Sales, rogai por nós!
Referências:
[1]Parte III, capítulo 9.
-Extras:
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Se quiser baixar o texto do livro na íntegra:
Para saber "Desânimo e tentações" é só ler o próximo post.
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