Muitas vezes é dito sobre a opressão que o Sistema causa às pessoas mais vulneráveis, fala-se de pobreza, de falta de oportunidades para desenvolvimento através da educaçãoe do trabalho, da necessidade de tolerância e respeito às diferenças, e é bom que seja falado sobre isso, são realidades importantíssimas para a dignidade das pessoas, fazem parte da “vida plena” que Jesus nos quer dar.
Não tão valorizadas, porém, são as realidades da liberdade de expressão e de consciência. E isso confronta diretamente com o que o Papa Francisco tem insistido fortemente quanto à necessidade do combate a uma cultura de abusos, - e no entendimento dele os abusos não são só os sexuais, há abusos de poder, econômicos e de consciência também.
Muitos preferem fingir não ouvir o que o Papa Francisco tem alçado a voz para alertar sobre a realidade do clericalismo e as relações abusivas no contexto eclesial.
Padres, bispos e leigos (com cargos de responsabilidade) se confundem sobre a finalidade de suas ações e movidos por imaturidades e/ou defeitos de caráter passam a usar de suas possibilidades para fins próprios e desequilibrados.
Eles passam a exigir que as coisas sejam feitas do seu jeito, segundo suas preferências, não são abertos ao diálogo, não aceitam questionamentos ou críticas e quando percebem qualquer movimento ou voz "ameaçadora" ao seu reinado imaginário, logo se revoltam, se sentem pessoalmente atacados e se colocam em guerra contra qualquer pessoa ou estrutura que não confirmem a sua realeza desejada.
Os abusos não-sexuais ocorrem de forma sutil e se camuflam através de pensamentos como “Mas ele é padre, quem sou eu para dizer que está errado?”, “Ah, mas é o jeito dele, tenho que respeitar”, “Se ele é a autoridade, deve ser tudo segundo suas preferências”, “Quem sou eu para questionar ou criticar algo feito por um sacerdote?”...
Os ambientes onde pessoas que têm cargos de autoridade exigem ser a única voz ouvida ou não aceitam críticas se tornam ambientes abusivos, já que a atitude de seus líderes é abusiva.
Reconhecendo que esse é um GRANDE MAL na dinâmica da Igreja é que o Papa Francisco tem insistido tanto na denúncia e combate aos comportamentos abusivos e orientado que, em contrapartida, a vivência da Igreja se dê de maneira sinodal - onde todas as pessoas são ouvidas e existem um discernimento comum sobre o caminho a ser seguido.
Infelizmente acontece que alguns leigos também têm comportamentos abusivos quando assumem cargos de liderança ou coordenação pastoral, muito provavelmente influenciados pela cultura de abusos e por imaturidades pessoais.
“Já que é assim que vejo os padres fazendo, também estou no direito de fazer isso, afinal, sou a autoridade aqui” ou inconscientemente: “Nossa, tenho um cargo, agora sou mais importante, agora as pessoas me admiram, me ouvem, tenho poder de fazê-las agir como quero”.
O QUE FAZER QUANDO SE ENCONTRAR EM SITUAÇÕES DE ABUSOS?
1. Não se cale, não seja conivente ou mostre-se resignado à situação. Tendo oportunidade, fale na hora: “Não!” e dê a justificativa quanto ao motivo. Não tendo condições de resistência imediata, não se cale posteriormente;
2. Leve o caso a quem é a autoridade responsável por quem está tendo o comportamento abusivo.
O silêncio é a maior ferramenta para que os abusos se perpetuem.
A boa notícia é que o Papa Francisco tem feito um grande trabalho a esse respeito, ele tem condenado o clericalismo (autoritarismo) abertamente e repetidas vezes e tem apontado a sinodalidade como o grande remédio eficaz para essa doença terrível.
A nós, povo de Deus, leigos e sacerdotes, cabe que não caiamos na armadilha de nos acharmos senhores de alguma coisa - ou pior ainda, das pessoas - e que combatamos com valentia e clareza o grande mal das relações abusivas em ambiente eclesial.
Acolhamos o que disse o Santo Padre:
"Nunca nos esqueçamos disto! Para os discípulos de Jesus, ontem, hoje e sempre, a única autoridade é a autoridade do serviço, o único poder é o poder da cruz"
e que
"O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio."
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