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Dos tempos em família e até os 15 anos | Salesianamente #2


Bom, agora que a gente já sabe da importância de Dom Bosco e um pouco sobre a vida dele, a gente já pode passar para aquilo que mais nos interessa aqui: Como é que ao longo da vida Dom Bosco foi correspondendo à graça de Deus e sendo santificado por ela?


Na região onde ele nasceu, no Piemonte, lá no norte da Itália, a religiosidade era algo muito característico. apesar da vida no campo ser muito exigente e difícil, as famílias mantinham em sua rotina uma constante referência a Deus e práticas católicas.


O povo piemontês é um povo de fibra, um povo determinado, um povo trabalhador, mas ele sabia que não bastavam os seus esforços puramente humanos para que a colheita fosse boa, por exemplo. Eles sabiam que deveriam fazer a sua parte também na vida de comunhão com Deus, na obediência a Ele, por amor a Ele.


Esse era o ambiente geral onde Joãozinho nasceu e na casa da família Bosco não era diferente. Francisco e Margarida eram um casal muito temente a Deus, de oração e caridade. Como o pai morreu quando os filhos ainda eram bem novinhos, o caçula tinha só 2 aninhos, a educação dos garotos recaiu toda sobre a responsabilidade da mãe, que tinha o apoio da avó paterna dos meninos ali junto dela todos os dias dando uma força.


Então, pra gente entender o caminho espiritual que Dom Bosco fez desde a mais tenra idade e que marcou profundamente a sua vida com Deus e o modo dele viver a santidade e a transmitir para seus filhos espirituais, a gente precisa olhar pra como era o ritmo da vida de fé que Mamãe Margarida imprimiu no lar deles.


A fé na casa da Família Bosco não era algo opcional ou superficial, a fé era a base de tudo e o ponto mais alto da vivência familiar. Margarida queria que seus filhos fossem formados com um bom caráter moral e grande força espiritual.


Como de costume em toda casa piemontesa, diariamente as famílias rezavam o Angelus 3 vezes ao longo do dia – e aqui vale a gente lembrar do sonho dos 9 anos de Dom Bosco, quando um homem apareceu pra ele dando orientações e ao ser perguntado sobre quem ele era, respondeu: “Eu sou o filho daquela a quem tua mãe te ensinou a saudar 3 vezes por dia”. Além da oração do Ângelus, também era costume que as famílias se reunissem todas as noites para a oração do Terço. Além dessas práticas, mesmo sendo analfabeta, Margarida catequisava os meninos diariamente os ensinando o Catecismo que ela tinha decorado desde menina. Era um catecismo em forma de perguntas e respostas que ela fazia os meninos decorarem um pouquinho por vez e q ao longo do dia, na convivência familiar, ela ia reforçando os conceitos para q ficassem bem gravados nos corações dos filhos.


Um exemplo desse catecismo é o diálogo:

– Que deve fazer um bom cristão de manhã ao acordar?

– O sinal da Santa Cruz.

– Após levantar-se e vestir-se, que deve fazer o bom cristão?

– Ajoelhar-se, se for possível, diante de alguma devota imagem e, renovando no coração o Ato de Fé na presença de Deus, dizer com devoção: Eu vos adoro...

– Que se deve fazer antes do trabalho?

– Oferecer o trabalho a Deus.


Era um catecismo bem concreto e que ia moldando pouco a pouco a mentalidade e as práticas diárias dos bons cristãos.


Essas eram algumas práticas cotidianas da Família Bosco, mas é importante também nós olharmos para aquilo que era a atmosfera na qual eles estavam envoltos.


Umas das coisas herdadas de Mamãe Margarida e que ficaram mais fortemente impregnadas na espiritualidade de Dom Bosco e que depois ele encontrou confirmação na espiritualidade proposta por São Francisco de Sales, foi a questão da vida estar sempre, de modo consciente, diante da presença de Deus. A mãe dizia incansavelmente aos meninos: “Não se esqueçam que Deus está sempre com vocês!”, “Lembrem-se que Deus os vê a todo momento” etc. Tanto para o manter-se em comunhão com Deus quanto para combater as tentações e pecados, essa noção de estar sempre na presença de Deus faz muita diferença. Deus não é o Senhor que está no alto do céu e ouve as nossas orações solenes, Ele é o Pai amoroso e providente que de perto e atentamente, acompanha todos os nossos passos.


Era natural que diante dos fatos da vida, o pensamento sempre fosse elevado a Deus com os corações gratos e confiantes no Pai amoroso. Assim, conforme as coisas iam acontecendo, a família se mantinha em união com Deus.


Era mais ou menos assim: Nas noites estreladas chegavam à soleira da casa e ela dizia: "Foi Deus que colocou lá em cima todos esses astros maravilhosos. Se é tão belo o firmamento, que não será o Paraíso?". Ou então diante do espetáculo magnífico do nascer do sol tendo a neve dos Alpes no horizonte, ela falava: “Quantas maravilhas Nosso Senhor criou para nós, meus filhos!" As vezes uma chuva de pedra devastava toda a vinha ou parte dela. E Margarida sussurrava: "Baixemos a cabeça meus filhos. Deus nos tinha dado esses lindos cachos de uva. Deus no-los tirou. Ele é o Dono. Para nós é uma provação; para os maus é um castigo". E quando nas noites de inverno, o vento uivava ou a chuva ficava como que martelando no teto, enquanto a família estava toda agasalhada encolhidinha junto ao fogo, Margarida dizia para as crianças: "Como devemos querer bem a Deus que nos dá tudo o que é necessário! Ele é mesmo o nosso Pai, o Pai nosso que está no céu".


TODAS as situações cotidianas na Família Bosco eram vividas buscando a aceitação da vontade de Deus, a gratidão a Ele por toda a graça recebida e a confiança absoluta em sua divina providência que não deixaria, de modo algum, que seus filhos perecessem.

Mesmo sendo uma mãe muito presente e carinhosa, Margarida não dava regalias aos filhos, ela os queria homens de vontade forte. Então, como café da manhã ela os dava apenas um pedaço de pão seco. Para dormirem, nunca tinham muito conforto, era no máximo um colchão de palha para que o repouso não fosse algo muito confortável e nem se caísse na tentação de fazer corpo mole e querer dormir mais do que o necessário. Essas coisas podem parecer pequenos detalhes, mas na formação de uma criança faz toda a diferença.


Mais tarde na vida de Dom Bosco, essas influências ficarão bem evidentes ao olharmos para aquilo que foi a vida de mortificação da própria vontade e de sacrifícios que ele viveu em todas as dimensões, mas de modo especial com relação à alimentação e ao sono. Quem não se domina nas mais baixas paixões, não tem como progredir na vida espiritual.


Na época da infância de Dom Bosco, os tempos eram difíceis em todo o Piemonte, havia fome, colheitas haviam sido perdidas, a economia estava devastada, Francisco, o chefe da família morreu nessa época deixando sua mãe doente e três filhos pequenos para que a esposa desse conta de sustentar. A gente pode imaginar quanta insegurança, trabalho e dificuldades foram enfrentadas. No entanto, nunca alguém passou pela casa deles pedindo ajuda e não foi atendido. Margarida sempre acolhia os viajantes sem hospedagem, com os vizinhos em necessidade ela partilhava do pouco que tinham e nesse clima de caridade concreta, os meninos foram crescendo com um coração não centrado em si mesmo, mas no fazer-se sinal da providência de Deus na vida do próximo.


Próximo ao final do caminho espiritual que Dom Bosco percorreu em sua infância e pré-adolescência, é preciso falar de duas realidades que foram imprescindíveis na vida dele com Deus e que ele ensinou para os seus jovens como sendo realidades centrais para que nós pudéssemos alcançar a salvação.


Umas dessas coisas é a prática da meditação diária.

Joãozinho era um garoto que tinha acabado de aprender a ler mais ou menos com 10 anos e, enquanto pastoreava o rebanho da família, tinha sempre consigo algum livro para que pudesse meditar sobre as verdades eternas. Os vizinhos que trabalhavam no pasto junto dele dão testemunho das vezes que foram chamá-lo para brincar e ele preferiu ficar lendo, das vezes que ele após ler parecia ter sido absorvido pela graça de Deus e não se dar mais conta do que estava acontecendo ao seu redor...

A prática da meditação sempre foi presente na vida de Dom Bosco, foi uma fonte inegável da graça de Deus para ele, onde conseguia apreender mais do que era Deus, tinha o amor pelo Senhor alimentado, crescia em intimidade, em santidade, onde ele se avaliava sob o olhar de Deus e revia suas atitudes e decisões.

Não foi à toa, que no seu best-seller de espiritualidade para os adolescentes, o livro contenha uma série de textos que ele escreveu para favorecer a meditação diária de seus meninos.


Os estudiosos afirmam que nessa época, na vida do pequeno João Bosco, começaram a aparecer os primeiros germes de uma vida contemplativa. Pode parecer estranho ou uma grande novidade falar de Dom Bosco e vida contemplativa, meditação, oração silenciosa, recolhimento em Deus, mas na realidade, tudo isso vivido ao longo de muitas décadas fez com que ele conseguisse assumir em si de tal forma o hábito da meditação e vida na presença de Deus, que dele já homem maduro, se pode dizer ter sido um contemplativo na ação. Mas que ninguém se engane que sem a prática cotidiana do recolhimento, da meditação, do colocar-se sob o olhar do Senhor, ele – ou qualquer pessoa- poderia chegar à contemplação na ação que tanto se fala.


E por fim, o centro de toda a vida cristã, o meio eficaz para a nossa salvação e que Dom Bosco tão bem viveu e incentivou que vivessem: a vida sacramental.


Ele foi catequisado por sua mãe porque a igreja não era perto da casa deles. Durante a quaresma, quando ele tinha cerca de 11 anos de idade, mesmo sendo mais novo do que o costume, ele fez um intensivo de catequese paroquial e foi admitido para fazer a sua primeira comunhão. Neste tempo, Mamãe Margarida acompanhou o filho algumas vezes para receber o sacramento da reconciliação e no dia da primeira eucaristia o fez viver um dia de recolhimento, sem distrações, para que tivesse o coração preparado para receber Jesus na eucaristia.


A partir de então, a vida sacramental, a vivência espiritual baseada em se manter em estado de graça, na amizade com Deus, e de por ele ser fortalecido na confissão e comunhão, foram a grande fonte de força e santidade na vida de Dom Bosco. Mesmo na época não sendo o costume a comunhão semanal, o adolescente Joãozinho se esforçava e recebeu autorização do pároco para comungar sempre.

Quando nós lemos Dom Bosco, pai e mestre da juventude, dizendo aos seus filhos da importância da confissão e da comunhão para que se mantenham na amizade com Deus, e assim vivam uma vida santa e feliz, ele estava dizendo da própria experiência vivida por ele desde os tempos de menino lá nos Becchi.

A santidade é uma graça que Deus nos dá através do nosso batismo, mas que precisa da nossa colaboração humana. O ambiente onde as crianças são educadas, faz a diferença. O modo como os pais conduzem a rotina familiar, faz a diferença. A docilidade de cada um diante dos estímulos exteriores e graças recebidas, faz a diferença.


No nosso querido padroeiro nós vemos todas essas coisas somadas e acolhidas com seriedade e em plenitude pelo pequeno João Bosco. Ele não deixou que nada da intervenção de Deus na vida dele se perdesse, tudo ele acolheu e com tudo ele colaborou fazendo aquilo que cabia a ele.


Que a Venerável Mamãe Margarida, interceda para que os pais saibam conduzir seus filhos para uma vida de amizade com Deus.


E que Dom Bosco, rogue por nós e nos eduque para a santidade!



Continue lendo sobre o itinerário perco rrido por Dom Bosco no desenvolvimento de sua vida com Deus.

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