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"Christus vivit", um agora de Deus ignorado há 4 anos

Atualizado: 21 de jul. de 2023


Dia 25 de março celebramos, para além da liturgia da Anunciação, o 4º aniversário da Exortação apostólica pós-sinodal Christus Vivit, do Papa Francisco para os jovens como fruto de suas reflexões ao final de toda a caminhada feita para e pelo Sínodo da Juventude, que aconteceu em 2018.


Todo aquele que lê a Exortação, tenho certeza de que por vezes se sentiu acompanhado por um amigo e em outras, aconselhado por um avô terno e sábio. O tom da fala do Papa muda ao longo do documento a depender de a quem esteja se dirigindo e o que esteja falando.



O documento está edificado sobre um tripé: reconhecer, interpretar e escolher. Procura reconhecer o contexto em que os jovens estão inseridos, destacando os pontos fortes e os desafios. Depois, procura interpretar a realidade e oferecer uma palavra incisiva, forte, transformadora e autorizada. E, por fim, recolhe as escolhas para uma conversão espiritual, pastoral e missionária.


E é aí nesse contexto em que encontramos no texto temas que deram direção para muitas das ações pastorais junto aos jovens nos últimos anos: protagonismo dos jovens, acompanhamento, escuta empática, sinodalidade missionária, formação integral, centralidade do anúncio de Cristo...


Dentre tantas coisas bonitas e importantes que o Papa quis dizer aos jovens, quando ele está apresentando o contexto no qual os jovens vivem no hoje da história, no capítulo 3, que tem como tema “Vós sois o agora de Deus”, o Santo Padre falou sobre um tema difícil e que sobre o qual se faz vista grossa. É como se o documento não tivesse texto nenhum dos números 95 a 102.

Um dos elementos da realidade que o Papa quer deixar os jovens a par e que pede a ajuda deles é quanto a “acabar com todas as formas de abuso”. No texto que segue a esse subtítulo, Francisco diz claramente o quanto nos é necessário hoje ouvir a voz das vítimas “dos vários tipos de abuso cometidos por alguns bispos, sacerdotes, religiosos e leigos.”

Se o Papa aproveita a publicação de uma Exortação Apostólica para tratar de um assunto é porque ele é importante naquele contexto específico. Ele afirma existirem vários tipos de abusos e que esses abusos são cometidos por todas as classes de fiéis na Igreja. Ele não está falando “só” de pedofilia e “só” de padres abusadores, mas de vários abusos realizados por todos os tipos de fiéis. Ainda que esses sejam comportamentos muito difundidos na sociedade, são um “sério obstáculo à missão da Igreja”.


Quantos de nós, inseridos nas pastorais, vemos que parece que a missão evangelizadora da Igreja, às vezes, fica enroscada, que as coisas não vão pra frente, não acontecem direto... O Papa diz com clareza o que é um obstáculo para a missão da Igreja, mas quantos já levaram essa fala a sério e refletiram sobre os diversos abusos que acontecem no meio eclesial os reconhecendo como inimigos da missão da Igreja?


O Santo Padre afirma que a existência de abusos sexuais ao interno da Igreja é uma “monstruosidade”, mas deixa claro que existem outros tipos de abusos e que todos eles devem ser igualmente combatidos: “abusos de poder, econômicos, de consciência, sexuais.” Critica a falta de transparência e de responsabilidade com as quais alguns casos foram geridos e deixa claro que o modo de exercer a autoridade precisa ser purificado.


Alguns trechos da Exortação precisam ser lidos na íntegra, não há como sintetizá-los sem perder muito de sua clareza e força:


“O desejo de dominação, a falta de diálogo e transparência, as formas de vida dupla, o vazio espiritual, bem como as fragilidades psicológicas constituem o terreno onde prospera a corrupção. O clericalismo é uma tentação permanente dos sacerdotes, que interpretam o ministério recebido mais como um poder a ser exercido do que como um serviço gratuito e generoso a oferecer; e isto leva a julgar que se pertence a um grupo que possui todas as respostas e já não precisa de escutar e aprender mais nada. Sem dúvida, o clericalismo expõe as pessoas consagradas ao risco de perderem o respeito pelo valor sagrado e inalienável de cada pessoa e da sua liberdade.” (CV 98)


Na sequência o Papa Francisco manifesta “gratidão a quantos têm a coragem de denunciar o mal sofrido: ajudam a Igreja a tomar consciência do que aconteceu e da necessidade de reagir com decisão”. E faz um forte apelo aos jovens, a todos os jovens: “quando virdes um sacerdote em risco, porque perdeu a alegria do seu ministério, porque busca compensações afetivas ou está a tomar um rumo errado, tende a ousadia de lhe lembrar o seu compromisso para com Deus e o seu povo, anunciai-lhe vós mesmos o Evangelho e animai-o a permanecer no caminho certo. Assim, prestareis uma ajuda inestimável num ponto fundamental: a prevenção que permite evitar a repetição destas atrocidades.”


E ele continua manifestando sua esperança no auxílio que a juventude para ser para a Igreja neste momento histórico: “este momento sombrio, com ‘a ajuda preciosa dos jovens, pode verdadeiramente ser uma oportunidade para uma reforma de alcance histórico’, para se abrir a um novo Pentecostes e começar um período de purificação e mudança que dê à Igreja uma renovada juventude. Entretanto os jovens poderão ajudar muito mais, se de coração se sentirem parte do ‘santo e paciente Povo fiel de Deus, sustentado e vivificado pelo Espírito Santo’, porque ‘será precisamente este santo Povo de Deus que nos libertará do flagelo do clericalismo, que é o terreno fértil para todos estas abominações.”

Queridos assessores das pastorais juvenis e amados jovens, ouçam com generosidade, ousadia e liberdade interior o apelo que o Papa fez, vejam a confiança que ele manifesta de que os jovens é que vão ajudar a Igreja a superar a maior de suas crises atuais.


Não finja que não é com você que o Papa está falando, não se acovarde ou se acomode. Procure saber mais sobre o tema e busque meios para fazer a diferença.


Não ignore o pedido que o Papa te fez. Você aceita ser parte da solução dos problemas da Igreja hoje ou vai preferir continuar sendo parte do problema? Sim, todas as pessoas, ainda que nunca tenham cometido nenhuma tipo de abusos, se não omissas ou silenciosas quanto ao assunto, estão colaborando para que ele siga se perpetuando.


"Amigos, não espereis pelo dia de amanhã para colaborar na transformação do mundo com a vossa energia, audácia e criatividade. A vossa vida não é «entretanto»; vós sois o agora de Deus, que vos quer fecundos. Porque «é dando que se recebe», e a melhor maneira de preparar um bom futuro é viver bem o presente, com dedicação e generosidade" (CV 178).


Se quiser saber mais sobre o assunto você pode o que já comentei a partir de alguns filmes, séries e eventos:


E o que já postei de resenha de livros explicando:


Documentos recentes do Papa Francisco, com orientações:

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