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Beatos Maria Corsini e Luigi Beltrame Quattrocchi - o primeiro casal a ser beatificado junto


Maria Corsini (1884-1965) e Luigi Beltrame Quattrocchi (1880-1951) formam o primeiro casal da história da Igreja a ser beatificado junto. O evento aconteceu numa celebração eucarística presidida pelo Papa João Paulo II, no dia 21 de outubro de 2001, na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Na ocasião, o Santo Padre disse:

“Inspirando-se na palavra de Deus e no testemunho dos Santos, os beatos Esposos viveram uma vida ordinária de maneira extraordinária. Entre as alegrias e preocupações de uma família normal, souberam realizar uma existência extraordinariamente rica de espiritualidade.“ Papa João Paulo II [1]

Luigi Beltrame nasceu em Catânia, na Itália, em 12 de janeiro de 1880 e era o terceiro de quatro filhos e foi criado por seu tio, Luigi Quattrocchi, que não tinha filhos e por isso pediu a Carlo, seu cunhado, que o deixasse criar um de seus quatro. Dessa forma, o pequeno Luigi foi morar com os tios e recebeu o sobrenome Quattrocchi como um acréscimo ao seu nome. Com dez anos de idade, acompanhando os tios, Luigi se mudou pra Roma, onde fez todo o percurso escolar e universitário, formando-se advogado.




Maria Corsini nasceu em 24 de junho de 1884, em Florença, na Itália. Seu pai era militar e por isso, frequentemente transferido de posto, obrigando a família a se mudar de cidade muitas vezes. Em 1893, a família Corsini foi transferida para Roma, de onde não mais saiu. Maria completou os estudos na área de Contabilidade, ainda que ela não gostasse tanto dos números e fosse mais ligada às palavras.


A amizade de Luigi e Maria começou quando em 1899, as famílias Corsini e Quattrocchi se conheceram. Ele era um universitário brilhante. Ela era estudante, gostava de estudar idiomas, piano e literatura. Aos poucos, os dois começaram a conversar sobre seus interesses culturais e foram criando uma profunda amizade. Quando, em 1904, o jovem Luigi ficou gravemente doente, Maria, muito preocupada, mandou uma carta para ele contendo um santinho de Nossa Senhora de Pompeia dizendo para que mantivesse a imagem sempre por perto e que a beijasse muitas vezes ao dia. Por mais de quarenta anos, até a morte, Luigi manteve essa imagem na carteira.


Após recuperar a saúde, Luigi e Maria começaram a namorar e casaram-se no dia 25 de novembro de 1905, na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Mesmo tendo consciência das possíveis dificuldades de relacionamento, o jovem casal decidiu morar com os pais e avós de Maria, para que ela, sendo filha única, pudesse honrá-los até o fim.


Em outubro de 1906, nasceu o primeiro filho, Filippo. Em 1908, Stefania e no ano seguinte, nasceu Cesar. Em quatro anos de casamento, três filhos! A vida de Luigi e de Maria foi pautada, desde o início, pela atenção aos mais idosos, pela generosidade e pela abertura em acolher e levar adiante tudo aquilo que Deus confiasse a eles, a começar pela vida e pela educação dos filhos, mesmo que isso custasse grandes renúncias.


As famílias Corsini e Quattrocchi não eram religiosas, em alguns casos, chegavam até a ser hostis à religião. Durante o seu percurso educativo Maria foi desenvolvendo uma sólida experiência de fé, o Luigi, por sua vez, tinha sede de justiça, de verdade e de valores sólidos. Com o passar dos anos, ele encontrou, na Igreja Católica, tudo aquilo que saciava os anseios do seu coração.


Com o desafio da educação dos filhos o casal se empenhou ainda mais em buscar as coisas que não eram passageiras e que, por isso, poderiam ser a base para a criação dos filhos, que Deus tinha confiado a eles.

O casal levava uma vida completamente normal. Todos os dias, pela manhã, participavam da Santa Missa na Basílica de Santa Maria Maior, que está localizado a cerca de 200 metros do apartamento da família. Enquanto Maria se arrumava para sair, Luigi lia em voz alta a liturgia do dia, para que eles se preparassem para o encontro com Jesus na Eucaristia. Ao sair da igreja, após terem comungado, Luigi se dirigia à esposa para dar-lhe o “bom dia oficial” e assim, só depois do encontro diário com Jesus, é que, de fato, o dia do casal começava. Os dois voltavam para casa e tomavam café, ele ia para o trabalho e ela começava seus afazeres cuidando das crianças.


Eles voltavam a encontrar-se na hora do almoço. E durante a tarde, Luigi voltava ao escritório. No início da noite, os dois saiam para caminhar juntos por meia hora, era o momento que eles podiam conversar sobre as preocupações e sobre as alegrias que tinham experimentado naquele dia. Compravam o jornal e voltavam para casa. As notícias eram lidas em voz alta para que todos pudessem tomar conhecimento e conversar a respeito. O ponto alto da vida familiar era a recitação do santo terço antes do descanso noturno.


Em 1913, uma surpresa, a quarta gravidez! Mais uma vez, Luigi e Maria acolheram com alegria a notícia de que Deus confiava a eles mais um filho. Pouco tempo depois, um diagnóstico os pegava de surpresa: havia problemas na gravidez e apenas 1% de chance de sobrevivência da mãe e da criança. O casal fez a experiência de uma profunda cumplicidade e aceitação da vontade de Deus. Os melhores médicos de Roma diziam claramente que o mais seguro era interromper a gravidez por meio de um aborto, para tentar salvar Maria já que ela era mãe de três filhos e tinha menos de trinta anos de idade.


Para decidir o que fazer, o casal não precisou nem de muito tempo e nem de muitas conversas, eles tinham certeza de que a vida, tanto a da mãe, quanto a da filha, era um dom de Deus e a Ele pertencia. Não cabia a eles decidir quem deveria viver. Ali mesmo no consultório médico, os dois apenas se olharam e confirmaram ser de comum acordo levar a gravidez adiante. Com muita apreensão do casal e com muita incompreensão das pessoas próximas, os meses da gravidez foram passando, até que veio ao mundo a pequena Enrichetta. A mão de Deus esteve à frente de tudo! Mãe e filha sobreviveram! Agora, a família Beltrame Quattrocchi estava completa!


Luigi e Maria foram pais muito presentes e dedicados. Desde a chegada dos primeiros filhos, eles se prepararam para educar as crianças, leram livros sobre Psicologia Infantil e sobre Educação, buscaram ouvir pessoas mais experientes... O casal sabia que a boa formação das crianças era a grande missão deles. Já na maturidade, num pequeno opúsculo sobre a vida familiar, Maria confidenciou: “Educámo-los na fé, para que conhecessem Deus e o amassem" [2]


Ao pai cabia o empenho pela educação cultural e moral dos filhos. Ele as ajudava a fazerem as lições, as levava em excursões e a passeios diversos. Luigi foi um dos responsáveis pela chegada e pelo desenvolvimento dos grupos de escoteiros na Itália. A mãe se dedicava mais à educação religiosa das crianças.


Uma das máximas que regia o modo de vida da família estava sempre na boca de Maria. Na vida cotidiana e na educação dos filhos, todos deveriam ter sempre o olhar “do teto para cima”, não parando nas realidades transitórias, voltando-se sempre para o céu! Sobre o jeito de viverem o Matrimônio, ela escreveu que era a “vida terrena vivida no contínuo pensamento, inspirado pelo próprio Deus, de fazer feliz a pessoa amada. A beleza do cantar dos pássaros, de uma flor, de um pôr do sol... Tudo sentido junto, numa mesma batida do coração, numa única vibração de prazer e de alegria”.


Quando os filhos demonstravam insatisfações egoístas, a mãe os levava aos hospitais para que visitassem crianças doentes e dessem doces a elas. Após se confrontarem com as dificuldades e com os sofrimentos de outras crianças, os quais iam muito além daquilo de que reclamavam como capricho infantil, os filhos, sensibilizados, voltavam a si, e a birra passava.


Além de todo o empenho para educar os filhos e fazer da própria família uma pequena “igreja doméstica”, o amor e a doação de Luigi e de Maria não tinha limites. Eles viviam uma intensa vida de caridade e de apostolado.


A casa da família estava sempre aberta a quem precisasse: pobres, doentes, judeus refugiados, religiosos de passagem por Roma ou em crise... Todos sempre encontravam acolhida e amparo na “Betânia de Roma”, como dizia um padre amigo.



Em nome da caridade, a família colocou em risco não só a sua saúde quando acolheu um bebê de quarenta dias que a mãe havia morrido vítima da terrível gripe espanhola, mas também colocou em risco a segurança de todos quando, durante a Segunda Guerra Mundial, acolhia judeus e os ajudava a fugirem para onde estariam mais seguros. Durante os anos da Guerra, Maria e Enrichetta, a filha caçula, fizeram o curso e se tornaram enfermeiras da Cruz Vermelha.


Anualmente, Luigi e Maria acompanhavam enfermos ao Santuário de Lourdes, na França, em peregrinação. Participavam da direção dos grupos de escoteiros na Itália e de movimentos pastorais que estavam nascendo na Igreja. Tinham a preocupação de oferecer formação doutrinal e espiritual às famílias, de ajudar os casais a viverem a vocação matrimonial como chamado de Deus e como caminho para a santidade. Foram eles que começaram a dar Curso de Noivos e se tornaram conselheiros de muitos casais, através dessa vivência Maria escreveu inúmeros livros sobre a educação dos filhos e sobre a vida familiar.


Dos quatro filhos, três manifestaram, na mesma época, o desejo de seguir a vida religiosa. Tal vocação foi acolhida no coração dos pais. No entanto, ao se despedirem dos filhos, sentiram grande dor. Num mesmo dia, os dois garotos deixaram a casa da família e foram para o seminário: um, pela manhã; o outro, à tarde. Alguns anos depois, a filha Stefania aderiu à vida religiosa na clausura.


Embora na sala de jantar, onde se reuniam para as refeições e oração, faltasse a presença dos três filhos religiosos, no coração e agenda dos pais, os três continuavam presentes. Luigi dividia os seus finais de semana de um jeito que fosse possível passar com cada filho uma vez por mês. Saía do trabalho na sexta-feira e ia para estação pegar o trem, viajava a noite toda, passava o sábado e o domingo com um dos filhos e voltava para Roma, mesmo a viagem sendo cansativa ele ia direto para o trabalho na segunda-feira cedo. Maria não viajava, mas acompanhava os filhos por cartas.


Enrichetta, a filha caçula, queria ser religiosa, mas a saúde debilitada não permitia que ela abraçasse uma vida austera. Por isso, decidiu consagrar-se a Deus na vivência do Quarto Mandamento e permaneceu na companhia dos pais, cuidando deles, até o último momento de suas vidas. Filippo, foi ordenado padre, e passou a se chamar Padre Tarcísio. Stefania virou Irmã Maria Cecília. Cesar, que também foi padre, se tornou Padre Paolino.


Na missa de beatificação do casal, três dos filhos estiveram presentes. Como nunca tinha acontecido uma beatificação de casal, por ser uma celebração inédita na História da Igreja, ainda não tinha sido escrito um rito para tal acontecimento. Então o Padre Paolino, terceiro filho de Luigi e de Maria, que tinha experiência como postulador das causas de canonização dos trapistas, escreveu o rito e entregou na Congregação para o Culto Divino e em seguida foi ao Papa João Paulo II mostrar o que ele tinha feito. A visita deu resultado, o Santo Padre, de imediato informal ao Cardeal responsável pelas celebrações que agora não havia mais motivo para postergar a beatificação do casal. Não bastou ser a primeira beatificação de um casal na história, o rito utilizado foi escrito por um dos filhos!


Enrichetta Beltrame Quattrocchi

E como uma árvore boa dá bons frutos, Enrichetta, a filha caçula e aquela que os médicos queriam que tivesse sido abortada, também está em processo de canonização e é uma Serva de Deus.

Beatos Maria e Luigi Beltrame Quattrocchi, rogai por nós! Serva de Deus Enrichetta Beltrame Quattrocchi, rogai por nós!

Referências:

[2] L'ordito e la trama.


-Extras:

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