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As amizades e outras realidades que fizeram a diferença na juventude de Dom Bosco |Salesianamente #4


Continuando, então, com a nossa caminhada seguindo, passa a passo, o modo como a experiência espiritual de Dom Bosco foi se desenvolvendo e se solidificando, chegamos na época em que ele viveu em Chieri para completar seus estudos escolares e depois como seminarista diocesano.


Nos 10 anos que aí viveu. Três realidades tiveram grande impacto na espiritualidade de João.


A primeira delas, central tanto na escola quanto no seminário, foi a questão de suas amizades. É ele mesmo quem conta que ao chegar na sala de aula dividia mentalmente os colegas em “três categorias: bons, indiferentes, maus. Estes últimos devia evitá-los absolutamente e sempre, assim que os conhecesse. Com os indiferentes havia de entreter-me por delicadeza e por necessidade. Com os bons podia travar amizade, quando fossem verdadeiramente tais. Como não conhecia ninguém na cidade, resolvi não contrair familiaridade com ninguém. Tive, entretanto, de lutar e muito com os que não conhecia bem”.


Com o tempo, João Bosco pôde conhecer bem seus colegas e, como nos tempos dos Becchi, ser um centro unificador das amizades em torno das coisas virtuosas. Começaram a se reunir para ele os ajudar a estudar, para se divertirem, mas a regra principal era se manterem na alegria de quem não ofende a Deus. Qualquer um que adotasse comportamento não virtuoso, não poderia mais fazer parte desta assim chamada Sociedade da alegria.


Dessa época, uma amizade que se destaca é a do colega judeu chamado Jonas. Os judeus eram discriminados naquela época, mas João Bosco nutria uma sincera amizade com Jonas, juntos eles cantavam, tocavam piano, liam, conversavam.... Com o passar do tempo e os questionamentos de Jonas diante dos desafios da vida, o que de melhor João poderia fazer pelo amigo, era partilhar com ele o maior tesouro e a luz de sua vida: a fé católica. Então, emprestou ao judeu um catecismo para ser lido.


Grande foi a confusão na família judia ao descobrir o interesse do filho pela fé católica. Os amigos tiveram de ficar um tempo distantes, mas no final das contas, Jonas pediu para ser batizado e se tornou católico. Esta amizade da adolescência de Dom Bosco permaneceu forte até a maturidade deles. Nos últimos anos de vida, ainda era possível ver os amigos se reencontrando em Valdocco para relembrarem os bons tempos vividos juntos em Chieri.


Já como eclesiástico, os conselhos de Mamãe Margarida continuavam iluminando os passos do filho, ele disse ter usado como parâmetro para suas amizades o conselho da mãe para que se juntasse a companheiros devotos de Maria, amigos do estudo e da piedade.


Das boas amizades do colégio que seguiram no Seminário, a mais famosa delas é a de Luís Comollo. Embora fosse mais velho do que Comollo, era João quem se deixava guiar pelo amigo. Décadas mais tarde, DB escreveu nas suas memórias o quanto o amigo tinha sido para ele uma bênção, um amigo que sabia o corrigir, consolar, incentivar na vida de piedade, que era alguém a quem buscava imitar e que a proximidade com Comollo foi importantíssima para que ele não se deixasse levar pelos seminaristas relaxados. Eles juntos conversavam, se ajudavam nos estudos, nas férias se visitavam, era uma amizade verdadeira e muito virtuosa. A morte prematura de Luís Comollo abalou muito ao jovem João Bosco, que logo escreveu um pequeno livreto contando a vida do virtuoso amigo.


Uma amizade menos conhecida e mais duradoura foi com João Francisco Giacomelli. Eles foram colegas de seminário em Chieri; depois da ordenação sacerdotal permaneceram juntos durante os anos de formação no Colégio Eclesiástico em Turim; nos primeiros anos do Oratório, o Padre Giacomelli foi morar com Dom Bosco e Mamãe Margarida servindo no Oratório com o seu sacerdócio; para os exercícios espirituais anuais, os dois amigos iam juntos caminhando cerca de 30km num único dia para chegarem ao Santuário de Lanzo onde fariam o retiro; por décadas o Dom Giacomelli foi capelão no hospital da Marquesa Barolo e, por fim, selando a grande estima, confiança e comunhão de coração entre os dois amigos, durante os últimos 16 anos da vida de Dom Bosco, os dois recorriam um ao outro para o sacramento da penitência. Por cerca de 50 anos se mantiveram amigos próximos, olhando sempre juntos na mesma direção e se ajudando mutuamente. Provavelmente ninguém conhecia melhor o coração de Dom Bosco do que Dom Giacomelli.



Na vida de Dom Bosco e na proposta espiritual que ele deixou para seus filhos, a amizade espiritual é um de seus mais extraordinários recursos.


Outra realidade marcante na vida espiritual de João Bosco em Chieri foi o modo como as coisas eram conduzidas no Seminário para que os seminaristas aprendessem a construir dentro de si um modelo de sacerdote que fosse centrado na oração, no estudo e no silêncio.


Fazia parte do regulamento da Casa de Formação que “a piedade e o temor de Deus sejam a primeira qualidade de quem pretende viver em nosso seminário, a fim de que, enraizando-se profundamente em seus tenros corações, possam oportunamente produzir doces frutos de virtude para a edificação comum desta nossa diocese”.


Mais tarde, Dom Bosco testemunhará o quanto as práticas de piedade eram bem feitas e variadas, todas as manhãs, missa, meditação, terço; à mesa, leitura edificante... só não o agradava que a única possibilidade de comunhão era aos finais de semana e ele queria se aproximar da eucaristia com maior frequência, para isso, dava o seu jeitinho, permanecia toda a manhã em jejum e assim que dava o intervalo do almoço, corria para a igreja vizinha para poder comungar e logo voltava às atividades do seminário. Embora não fosse algo previsto ou incentivado pelos formadores, eles sabiam que o jovem estava desrespeitando as regras da casa e davam o consentimento embora não explícito.


Por fim, foi no Seminário que Dom Bosco começou a nutrir grande devoção pela Imaculada, a São Francisco de Sales e a São Luís, e foi aí, num dia ao acaso, que começou a ter contato com o livro A imitação de Cristo, que foi muito importante naquele momento da vida dele, causando transformações grandes e definitivas no coração do jovem João Bosco, e que mais tarde se tornou uma recomendação constante dele aos seus meninos como leitura espiritual.


Com o tempo vivido em Chieri pelo nosso Pai e Mestre, nós vemos a importância que devemos dar a escolha dos nossos amigos para que desde o início nossas amizades nos ajudem a sermos mais agradáveis a Deus; também o quanto não basta que vivamos a piedade aprendida no berço, mas que ela deve ser sempre mais aprimorada e aprofundada e que para isso pode ser de grande valia livros de espiritualidade como a Imitação de Cristo, Filoteia, Práticas de Amor a Jesus Cristo e outros que Dom Bosco experimentou na própria vida e recomendava aos seus filhos.


Dom Bosco, pai e mestre, rogai por nós e educai-nos para a santidade!




Continue lendo sobre o itinerário percorrido por Dom Bosco no desenvolvimento de sua vida com Deus.


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Maria Teresa R. Rosa - assessoria em prevenção de abusos em ambiente eclesial

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