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5 passos para pessoas normais se tornarem abusadoras

Atualizado: 21 de jul. de 2023


Tendo visto qual é a gênese de um escândalo, agora, passemos a pergunta: como é a dinâmica na qual a possibilidade de um abuso se desenvolve?

O Padre Amedeo Cencini apresenta, então, os 5 passos que ele observou terem sido dados pelos abusadores que, inicialmente, não tinham qualquer problema patológico, mas que com o passar do tempo e as opções feitas na busca por gratificação foram se encaminhando por um longo caminho de descida ao que de pior poderiam viver.



1. O ponto de partida são sempre as situações consideradas normais, que não chamam a atenção nem da própria pessoa e nem daqueles que estão próximos a ela. Não há nada de moralmente errado ou pecado acontecendo, mas a pessoa começa a abrir pequenas concessões diante daquilo que é a sua identidade vocacional de celibatário (religioso ou sacerdote).


É preciso que a pessoa seja muito vigilante sobre seus atos e motivações e que não apenas não peque, mas que construa de modo positivo um certo tipo de atitudes coerentes com sua escolha vocacional.


Um celibatário não pode viver como um solteiro e nem tão pouco almejar ter as mesmas gratificações psíquicas e afetivas que casados têm.


2. Se a pessoa não está atenta, começará a repetir os gestos que são fruto das pequenas concessões feitas. Conforme acontece a repetição, cria-se a predisposição a sempre corresponder às circunstâncias da vida a partir do reforço (gratificação) recebido. Um gesto repetido muitas vezes se torna familiar e a consciência da pessoa passa a não o reconhecer com tanta clareza como sendo algo negativo.


Pouco a pouco a pessoa passa a viver de modo incoerente com a vocação recebida e respondida em liberdade.



3. Quando a repetição é consolidada, então têm-se um hábito. A partir de então já não é mais só algo de atitudes exteriores encaminhadas numa direção, mas passa a haver envolvimento da sensibilidade da pessoa favorecendo e buscando aquilo que antes tinha sido apenas uma pequena concessão.


Todas as escolhas, por menores que sejam, que uma pessoa faz constroem a sensibilidade dela numa determinada direção.

O hábito adquirido numa direção contrária ao estilo de vida celibatário desenvolverá uma sensibilidade (emoções, gostos, atrações...) numa direção contrária a que é própria da vida celibatária. E aqui vale ressaltar que nem tudo o que é moralmente lícito, é psicologicamente conveniente. Isso se dá justamente porque muitas atitudes embora não sejam pecado, constroem a sensibilidade da pessoa numa direção incoerente com sua opção vocacional.



4. Depois de um hábito contrário à identidade vocacional ter sido incorporado na vida da pessoa, ela passa a agir de modo ambíguo, a sua sensibilidade passou a ser deformada, ela começa a se sentir atraída por aquilo que não condiz com a sua opção.


Na medida em que a pessoa vai ficando mais sensível e tendendo mais para o que não é próprio de sua vocação, ela começa a se sentir cada vez mais insensível ao que seria a vivência coerente e equilibrada do celibato.


A deformação da sensibilidade é justamente isto: desenvolver a sensibilidade na direção oposta daquela que deveria ser a atração emotiva típica de uma pessoa que fez aquela determinada escolha de vida.

Aos poucos a sensibilidade relacional vai desaparecendo, o respeito ao outro vai diminuindo e aí começam a nascer abusos relacionais, onde o outro é visto como meio para conquistar algo, como um objeto favorável à busca por gratificação. A consequência dessa quarta etapa é que a pessoa se torna cada vez menos lúcida e mais insensível. A deformação da sensibilidade atinge também a moralidade da pessoa que cada vez mais terá uma consciência moral mais relaxada.



5. Quando a sensibilidade e a consciência foram deformadas, chega-se ao ponto divisor entre a normalidade e a patologia. É quando a pessoa começa a perder a própria liberdade no controle da situação. Passa a ocorrer automatismo e dependência e é quando as pessoas começam a se justificar dizendo "É mais forte do que eu". No início, não era assim, mas a coisa se tornou “mais forte do que eu” pelas escolhas feitas no cotidiano.


A patologia é fruto e consequência de um certo modo de ser, de um estilo de vida, não determinado por situação precedente do sujeito.

Aqui as gratificações recebidas no início com as concessões veniais já não parecem mais satisfazer a pessoa e ela sente necessidade de receber sempre mais, mais, mais... Por isso, os abusos não costumam ser fatos isolados, mas repetitivos. Outra realidade afetada nesse ponto é que a pessoa cada vez mais perde a capacidade de sofrer pelas situações e pelas pessoas, ela vai ficando insensível e enxergando tudo o que está no mundo exterior dela como meios para buscar gratificações.



Quem tiver denúncias para fazer, deve procurar os escritórios próprios para esse fim nas Dioceses e Congregações ou o Núcleo Lux Mundi da CNBB/CRB.


Se quiser saber mais sobre o assunto você pode o que já comentei a partir de outras produções:


E o que já postei de resenha de livros explicando:


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